[Minha leitura se chama
O que faz um poema ser um poema?
e vou ligar o cronômetro]
Não é a rima das palavras no fim da linha
Não é a forma
Não é a estrutura
Não é a solidão
Não é o espaço
Não é o céu
Não é o amor
Não é a luminosidade
Não é o sentimento
Não é a metrificação
Não é a época
Não é a intencionalidade
Não é o desejo
Não é a temperatura
Não é a esperança
Não é o assunto escolhido
Não é a morte
Não é o nascimento
Não é a paisagem
Não é a relação de palavras
Não é o que há entre as palavras
Não é o cronômetro
Não é o...
É o tempo
Charles Bernstein nasceu em Nova Iorque, em 1950. Charles Bernstein participou da L=A=N=G=U=A=G=E, publicada entre 1978 e 1981 (e que pode ser lida aqui)
No Brasil saiu o livro Histórias da guerra, pela Martins Fontes, com textos e poemas seus, e o poema Um teste de poesia teve uma tradução de Haroldo de Campos.
A leitura-poema acima caminha e se encaminha para a palavra timing, que bem podia ser traduzida por... timing...? Opção que seria "traduzir" e "não-traduzir" ao mesmo tempo, ou que poderia se constituir como uma possível resposta à pergunta feita por ele, o que faz um poema ser um poema?... Pensando na tradução como um processo em aberto, deixei por enquanto o tempo ali, palavra que abarca muitas outras possibilidades e campos semânticos e que não corresponde ao timing, nem ao timing bersnsteiniano, mas pode gerar outras perguntas, pode gerar outros diálogos, pode gerar outros tempos... Agradeço ao comentário da Bia (Beatriz Bastos), que pensando na leitura que faz o Bernstein ali sugere outras possíveis traduções, como por exemplo repetição, ótima solução, sobretudo pela estrutura parafrásica do poema.