em abril de 2013 quebrei o pé
sozinho em casa
dançando a canção "a chave" de bárbara eugênia
por conta disso eu fiquei seis semanas imobilizado
por conta disso eu tranquei quatro cadeiras da universidade
por conta disso eu assisti
por volta de quarenta filmes
no período de um mês e meio
por conta disso também
em maio de 2013
eu sabia muito mais sobre a nouvelle vague
do que em março de 2013
os statements da nouvelle vague
e em especial os de jean-luc godard
sobre a singularidade da
linguagem cinematográfica
me impactaram de tal forma
que desde então
venho procurando semelhantes statements
em diferentes frentes
filmes que digam : isto é um filme
poemas que digam : isto é um poema
danças que digam : isto é uma dança
me parece que é justamente afirmando
a própria singularidade
e proclamando independência
que uma linguagem se faz apta
a dialogar com todas as outras
e
a partir de seu próprio centro gravitacional
torna-se fértil
profícua
maravilhosa
como um corpo celeste
que acumula satélites
em meados de 2014 li no blog de marília garcia
como prévia do livro um teste de resistores
um poema que
a partir da mesma referência godardiana
trazia ponderações muito semelhantes às minhas
(o que faz do poema um poema?
como construir um poema que se
proclame enquanto tal?)
por conta disso tomei como prioridade
como parte da minha jornada intelectual pessoal
a leitura desse livro de marília garcia
mas por uma série de motivos
levei um ano para realizar
a leitura desse livro de marília garcia
que só fiz há um mês
em junho de 2015
um teste de resistores é um livro
-ensaio
sobre o que a poesia é
sobre o que a poesia pode ser
mas não é um livro de teoria
porque é um livro que põe em prática
a reflexão que traz
um teste de resistores é um livro
em que forma e conteúdo
se complementam
e justificam
a partir da leitura do livro um teste de resistores
muitas pessoas escreveram para marília
sobre a experiência que tiveram com o livro
na forma de poemas que seguem a uma
espécie de fórmula presente na obra:
experiências pessoais
intercaladas
com reflexões sobre a poesia
dispostas em poemas prosados
recortados
e com pequenas repetições internas
de palavras e expressões
pequenas repetições internas
que nos lembram que aquilo é um poema
pequenas repetições internas
como as imagens insistentes
nos filmes de jean-luc godard
como a marília garcia
eu gosto muito de escrever poemas
e também quero construir statements
de singularidade
mas meu caminho não tem sido o mesmo que o dela
eu me aproximo muito mais da poesia concreta
por exemplo
que tem a mesma preocupação
só que de um jeito diferente
mas foi mais que gratificante
a leitura de um teste de resistores
como foi gratificante a escrita desse poema
que agora envio num email
para a marília garcia
e para minha amiga maria
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o pedro cassel mora em porto alegre e é compositor.
o pedro cassel me mandou por email este satélite do teste de resistores
ele fala sobre alguns tipos de statements
como por exemplo
alguns poemas que dizem eu sou um poema
alguns satélites que dizem eu sou um satélite
-- dizendo o que faz e fazendo o que diz.
como se eu dissesse aqui nessa nota ao poema
estou fazendo uma nota ao poema
assim este satélite nomeia a própria conversa-com-o-teste-de-resistores
(além de nomear também esta outra conversa que estou subindo aqui no blog)