Não sou pintor, e sim
poeta.
Por quê? Acho que eu
preferia
ser pintor, só que não
sou. Bem,
por exemplo, o Mike
Goldberg
está começando um
quadro. Vou lá.
“Senta e bebe alguma
coisa”, ele
diz. Bebo. Bebemos. Eu
olho
pro quadro. “Você
escreveu SARDINHAS.”
“Tinha que pôr alguma
coisa ali.”
“Ah.” Os dias passam e
eu
vou lá de novo. O quadro
avança,
eu vou embora, e os dias
vão
passando. Eu volto. O
quadro está
pronto. “Cadê SARDINHAS?”
Só ficaram umas
letras. “Era demais”,
diz Mike.
Mas e eu? Um dia eu
penso numa
cor: LARANJA. Escrevo um
verso sobre
laranja. E logo é uma
página
inteira de palavras, não
versos.
Depois outra página.
Devia
haver muito mais, não
laranja, mas
palavras, sobre o horror
do laranja e
da vida. Os dias passam.
Está até
em prosa, sou poeta
mesmo. Meu poema
está pronto, e ainda nem
falei em
laranja. Doze poemas, e
o nome é
LARANJAS. E um dia numa galeria
vejo o quadro do Mike: SARDINHAS.
tradução de Paulo Henriques Britto
do livro Meu coração está no bolso
cuja capinha abre o post
traduzido por Beatriz Bastos e Paulo Henriques Britto
tradução de Paulo Henriques Britto
do livro Meu coração está no bolso
cuja capinha abre o post
traduzido por Beatriz Bastos e Paulo Henriques Britto
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