quinta-feira, 29 de setembro de 2011

O que dizia o poema – Jacques Roubaud




O que dizia o poema, esqueci
Soube dizer o que dizia o poema, mas esqueci
O poema dizia isso, mas isso que dizia o poema, esqueci
Que o poema dissesse isso, era isso que dizia o poema? Se é isso que dizia o poema, esqueci
Talvez, sem saber o que dizia o poema, enquanto eu dizia o poema, (no tempo em que eu dizia o poema), eu já tivesse esquecido
mas se é isso que dizia o poma, esqueci
Agora, quando digo esse poma, não sei se digo esse poema, já que o que dizia o poema, esqueci
É por isso que o que dizia esse poema não é mais verdadeiramente o que dizia o poema
E que esqueci


Tradução de Marcelo Jacques de Moraes





Jacques Roubaud nasceu em Rhône, em 1932. Jacques Roubaud é poeta e matemático e participa do OULIPO desde a sua criação, em 1960. Publicou diversos livros, dentre os quais:  Quelque chose noir, Poésie, La forme d'une ville change plus vite, hélàs, que le coeur des mortels. Desde cedo, Jacques Roubaud foi tomado pela síndrome de "ice cube", segundo nos conta Inês Oseki-Deprê no posfácio à tradução que fez do Algo : preto: síndrome que consiste em não falar de si nem de seus sentimentos. Na foto ao lado, o poeta estava em uma soirée oulipienne, num dos muitos encontros feitos quando da celebração de 50 anos do grupo. Aliás, vê-se na foto um demi-Jacques-Roubaud, ao lado de seus companheiros oulipianos: pedaço de Roubaud por detrás de um terno preto, por detrás de uma estante de livros, por detrás das falas oulipianas, no momento em que alguém sussurrava seu nome e a linguagem se concretizava no espaço, em uma tarde de domingo na livraria Comptoir des mots.



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