hoje encontrei meu assassino.
dispersa, olhei para a plateia e ele estava lá
os olhos fixos em mim.
soube na mesma hora
de quem se tratava
tentei disfarçar a chuva
tentei disfarçar a chuva
que deixou a franja bagunçada
na frente dos olhos mas o assassino
me olhava mas eu revidava
muito dura: era um jogo.
sabia que a qualquer respiração
se eu desconcentrasse ou tropeçasse
ele não perdoaria nunca (isso já aconteceu antes).
lembro bem quando
o meu assassino me atirou
pela primeira vez
a diferença é que agora sei
como se chama sei o formato do maxilar
e como ele me olha com esses olhos
de assassino.
pensei em chamar a polícia, os jornais
pensei sobretudo
em mudar de cidade
e não contar para ninguém, assim
o meu assassino me procuraria
nos mesmos lugares de sempre
mas frustrado voltaria para casa
e me escreveria longas cartas
dizendo fique avisada, seus dias estão no fim.
contudo meu assassino jamais seria
capaz de me encontrar
e por isso as longas cartas
que ele levaria ao correio muito bem
dobradas em envelopes com cheiro
de canetinhas coloridas
as cartas não chegariam em parte alguma
pois não constaria o meu nome
em nenhuma página amarela
em nenhuma página amarela
ou conta de luz.
meu assassino bateria na porta
da minha antiga casa
no que eu o convidaria para entrar
ofereceria um café e diria
que pena! que desencontro! que perda!
ela não mora mais aqui.
Alice Sant’Anna nasceu no Rio de Janeiro, em 1988. Publicou seu primeiro livro, Dobradura, em 2008, pela editora 7Letras (essa capinha acima). A primeira vez em que li um poema seu foi na miniedição artesanal que Alice fizera um ano antes (e que já tinha alguns poemas que comporiam o primeiro livro): chamava-se A dobra dura (essa capinha abaixo). Alice é editora-assistente da revista Serrote, do IMS. "Meu assassino" foi publicado na página Risco (Prosa e verso) e a foto que abre o post é de Mariano Marovatto.
Alice Sant’Anna nasceu no Rio de Janeiro, em 1988. Publicou seu primeiro livro, Dobradura, em 2008, pela editora 7Letras (essa capinha acima). A primeira vez em que li um poema seu foi na miniedição artesanal que Alice fizera um ano antes (e que já tinha alguns poemas que comporiam o primeiro livro): chamava-se A dobra dura (essa capinha abaixo). Alice é editora-assistente da revista Serrote, do IMS. "Meu assassino" foi publicado na página Risco (Prosa e verso) e a foto que abre o post é de Mariano Marovatto.
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