sexta-feira, 22 de maio de 2015

[Perdido. Há uma piscina...] – Pierre Alferi






Perdido. Há uma piscina em algum canto
e num outro um boliche enterrado.
Labirinto é um lugar do qual conhecemos os ângulos,
como se os tivéssemos traçado em outro momento, mas
não identificamos exatamente o ponto em que estamos.
Atrás do Panthéon para o leste, chegando dessa vez
nas ruas Monsieur-le-Prince e Soufflot: é ali,
Q-17 no Indispensável. A máxima mais alegre
seria "você não vai embora até ver tudo".
Acho que sei o nome de cada ruela entre
a rua Mouffetard e a rua Geoffroy-Saint-Hilaire
 grande coisa! Subimos e descemos o tempo todo,
dizemos: pronto, era aqui então. Para penetrar num labirinto,
em sua ideia, é preciso além de tudo excluir a eventual possibilidade
de andar em círculos. Assim, o vendedor de madeira e carvão,
a rua do Puits-de-l'Ermite e, consequentemente, a própria rua
sempre me pareceram ou muito altas ou muito baixas.
Li um artigo sobre as abelhas e os robôs descentrados,
a viagem tranquila de um indivíduo, de uma informação
através de uma colmeia, um cérebro, um país que não tem
mapa. Gosto acima de tudo dos rituais, da miopia,
do que vem por eliminação ou no passo a passo,
o olhar no nível do chão. A rua Mouffetard é uma régua graduada
para toda a região, mas uma regra cujos valores
 uma livraria, o Roi Café, o mercado se invertem logo que eu viro as costas.
O destino, para uma caminhada metódica,
é menos um ponto, aquele digamos onde acaba a rua de la Clef,
do que o preenchimento de casas vazias. Pode-se assim considerar
cada segmento como um parêntese. Ao modo dos turistas
que fazem Creta, eu faço esse lugar. Para completar minha desorientação,

não vi ninguém que tenha me visto, caçador nem explorador.
Na rue Épée-de-Bois, um caminhão transporta as cartas.





















poema originalmente publicado no livro Chemin familiar du poisson combatif (1992)
mas lido nessa antologia para flâneurs
com poemas que falam sobre andar (e se perder) pelas ruas de Paris

o pierre alferi é um poeta e artista francês
o pierre alferi é professor na école de beaux arts
ele escreveu vários livros fez alguns cine-poemas e tem esse blog com seu trabalho
aqui um dos cine-poemas

tive uma dúvida ao traduzir esse poema: o que é Q-17 no Indispensável?
Q-17 pode ser um certificado anti-incêndio
Q-17 pode ser um sistema de câmeras
Q-17 pode ser muitas outras coisas
ainda não consegui decifrar
o que é
nem o Indispensável
que ele fique sendo aqui mais uma medida para me deixar perdida no mapa
por fim poderia ser um ponto no jogo de batalha naval...

ah
e a imagem do henri cartier-bresson
de 1954
é na rue mouffetard
e se chama
en fait
rue mouffetard
embora o menino não tenha a menor pinta de perdido...

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