quarta-feira, 28 de maio de 2014

Bolsistas da Fulbright -- Ted Hughes





Onde teria sido, na Strand? Notícias
Em exposição, fotografias.
Não sei por quê, me chamou a atenção.
Uma foto da mais recente leva
De bolsistas da Fulbright. Prestes a vir --
Ou recém-chegados. Ao menos alguns.
Você era um deles? Examinei a foto,
Não muito a fundo, me perguntando quais
Eu talvez viesse a conhecer.
Lembro de ter pensado nisso. Não lembro
Seu rosto. É claro que olhei mais
Para as moças. Reparei talvez em você.
Quem sabe a avaliei, e achei pouco provável.
Vi seus cabelos longos, ondas soltas --
A franja à Veronica Lake. Não o que ela escondia.
Loura, eu teria pensado. E o seu sorriso.
Seu sorriso americano exagerado
Para as câmeras, os juízes, os estranhos, os atemorizadores.
Depois esqueci. Mas me lembro
Da foto: os bolsistas da Fulbright.
Com bagagem e tudo? Pouco provável.
Teriam vindo todos juntos? Eu estava caminhando,
Pés cansados, sol forte, calçadas quentes.
Foi então que comprei um pêssego? É o que lembro.
Num quiosque junto à estação de Charing Cross.
O primeiro pêssego fresco que jamais comi.
Tão gostoso que mal acreditei.
Aos vinte e cinco anos, mais uma vez surpreendi-me
De ver que ignorava as coisas mais simples.



Tradução de Paulo Henriques Britto

neste livrinho da Record
Cartas de aniversário


terça-feira, 27 de maio de 2014

Eine nationale poesie? – Jacques Roubaud


Osnabrück, 27 de novembro de 1993.

@1

@1.1 Na minha família, o telefone não penetrou antes de 1945. Eu tinha doze anos. Era um aparelho grande e assustador, uma espécie de divindade, sem dúvida hostil. Meu pai não queria responder ao seu chamado, muito menos servir-se dele. A minha mãe cabia a tarefa de exorcizá-lo. Mas ela mesma não deve ter conseguido dominá-lo realmente. Com efeito, tendo-se passado vários anos, tínhamos deixado Carcassone, onde vivêramos durante toda a guerra (lembro-vos que houve uma guerra entre 1939 e 1945), e tínhamos vindo viver em Paris e um dia minha mãe recebeu um telefonema de uma velha amiga de lá, de antes. Elas falaram por um momento, deram notícias das famílias, das crianças, e, no momento de se deixarem, minha mãe disse: "Não vamos mais ficar tanto tempo sem nos falar. Toma o meu número de telefone." "É, você tem razão, me dá o número", começou a dizer a amiga. Neste momento, as duas começaram a rir.

@1.2 Quanto a mim, não avancei muito no domínio deste instrumento. Quando recebi uma chamada de Hamburgo me perguntando o título de minha intervenção de hoje, tive um momento de pânico. Pensando na inacreditável distância percorrida pela voz que chegava dessa maneira inverossímil à minha orelha, respondi bruscamente, com uma hesitação interrogativa na voz e na orelha: "uma poesia nacional?". E foi assim que me veio esse título e numa espécie de alemão que creio totalmente adequado e que adoto, consequentemente, pronunciando-o à minha maneira de quase analfabeto em assuntos germânicos: "Eine nationale Poesie?"

@1.3 Procederei da seguinte maneira. Num primeiro momento questionarei a ideia de nação. Num segundo momento me perguntarei o que a poesia pode ter a ver com a nação. Permanecerei mais ou menos no modo interrogativo, não tendo muitas respostas a oferecer, o que não me impedirá de expressar-me de maneira peremptória, como todo mundo.

@ 2
@2.1 Já faz alguns anos, a França, querendo mostrar que não guardava rancor da Alemanha por certos mal entendidos ocorridos em sua recente história comum, resolveu tomar-lhe emprestado a concepção de um movimento político de tendências fascistas, cujo nome é Frente Nacional e cujo chefe (era preciso ter um chefe) se chama Le Pen.

@2.2 Uma das ideias da Frente Nacional é: "A França aos franceses!", ou ainda "Fiquemos entre nós e as vacas estarão bem guardadas." Há estrangeiros demais na França, dizem, eles nos invadem, como outrora o fizeram os árabes vencidos por Charles Martel (um membro de honra da Frente Nacional) em Poitiers, em 732. Eles comem nosso pão, arruinam nossa segurança e nossa seguridade social. Em suma, "Eles vêm em nossos braços / estrangular nossos filhos e nossos companheiros". Bem, pelo menos simbolicamente.

@2.3 Então é preciso se livrar dos estrangeiros.

@2.4 Mas aí encontramos um problema. Se enviamos os estrangeiros de volta a seus lares, isso significa que, de modo claro e indiscutível, sabemos distingui-los dos franceses, que devem ficar em seu país. O que é um francês?

@2.5 Debruçando-se sobre a questão, a Frente Nacional, pela voz de seu chefe (é preciso um chefe que fale em nome de todos) propôs uma definição do francês.

@2.6 Definição de Le Pen: É francês aquele ou aquela cujo pai e cuja mãe são franceses.

@2.7 Entusiasmado por esta definição, compus o seguinte poema, já traduzido para várias línguas, digo com orgulho (isso não ocorre com tanta frequência), incluindo o alemão.

@2.8 Atenção: o poema deve ser dito bem rápido!

@ 2.9 Poema:

Le Pen é francês?

Se Le Pen fosse francês, segundo a definição de Le Pen, isso quereria dizer que, segundo a definição de Le Pen, a mãe de Le Pen e o pai de Le Pen teriam sido eles mesmos franceses segundo a definição de Le Pen, o que significaria que, segundo a definição de Le Pen, a mãe da mãe de Le Pen, assim como o pai da mãe de Le Pen, assim como a mãe do pai de Le Pen, sem esquecer o pai do pai de Le Pen teriam sido, segundo a definição de Le Pen, franceses, e consequentemente a mãe da mãe da mãe de Le Pen, assim como a mãe do pai da mãe de Le Pen, assim como a mãe da mãe do pai de Le Pen, e a mãe do pai do pai de Le Pen teriam sido francesas segundo a definição de Le Pen, e da mesma maneira e pela mesma razão o pai da mãe da mãe de Le Pen, assim como o pai do pai da mãe de Le Pen, assim como o pai da mãe do pai de Le Pen, e o pai  do pai do pai de Le Pen teriam sido franceses sempre segundo a mesma definição, a de Le Pen
donde se concluirá sem problema e sem a ajuda de Le Pen ao se seguir o raciocínio
ou que existe uma infinidade de franceses que nasceram franceses segundo a definição de Le Pen, viveram e morreram franceses segundo a definição de Le Pen depois da aurora do começo dos tempos ou
que Le Pen não é francês segundo a definição de Le Pen.

Jacques Roubaud, provençal

@2.10 Tive que assinar provençal, não sendo eu francês, mas mais ou menos provençal, em todo caso o sou se remontar algumas gerações. (eu incluiria de bom grado o troubadour Rubaut entre os meus ancestrais, mas não consegui ainda determinar todos os elos perdidos de minha genealogia).

@2.11 A segunda alternativa, qual seja, que Le Pen não é francês segundo a sua própria definição, recebeu recentemente uma confirmação brilhante. Quando estive em Nova York para uma leitura no Poetry Project de St. Mark's Place e li meu poema, alguém no final me trouxe uma caneta de marca Le Pen. Ao examiná-la vi que ela era "made in Japan". Quod erat demonstrandum.


Tradução de Monique Balbuena
publicado na revista Inimigo rumor 7

quarta-feira, 21 de maio de 2014

Açaí ou Cine Paissandu para Aníbal Cristobo



em 2008, o aníbal já estava morando em barcelona
em 2008, o aníbal tinha um diário online
em 2008, o aníbal escreveu 366 posts neste diário
o diário se chamava kriller 2008, yo debería estar haciendo otra cosa 
http://cristobo.livejournal.com/
um dia, em 2008, o aníbal cristobo me pediu para ocupar seu diário
esse dia foi o último dia do cinema estação paissandu
neste dia ocupei seu diário levando o aníbal para um açaí virtual

quinta-feira, 8 de maio de 2014

Poema – Simon Armitage



O Frank O’Hara estava aberto em cima da mesa
mas fui direto para a agenda telefônica.
Nick tinha saído, Joey tinha um compromisso, Jim 
já estava mesmo preparando um café, por que eu não

dava um pulo lá? A Astrud Gilberto
cantava “Bim Bom” no meu walkman da Sony
e o sol começava a secar a ardósia úmida nos
telhados. Entrei sem tocar a campainha

e ele ainda não tinha se trocado nem se barbeado quando
completamos a xícara de café com o Scotch do seu velho
(eram só dez e meia da manhã mas e daí?)
e saímos para a varanda com o jornal.

Os Talking Heads tocavam no rádio. Eu
ia começar a falar de futebol quando ele 
disse: “Olha, será que você me ajuda a esvaziar 
o armário dela?” Eu disse: “Claro, Jim, estou do seu lado.”

segunda-feira, 5 de maio de 2014

Aníbal Cristobo



O vídeo acima, com a linda leitura do Aníbal Cristobo, e o texto a seguir foram feitos em 2009 para o blog da modo de usar & co. Em maio de 2014, será publicado o livro novo do Aníbal, o Minha vida como bactéria, e ele virá ao Rio para o lançamento. Reproduzo o texto abaixo exatamente como saiu no blog da modo; gostaria apenas de acrescentar o link para a Kriller71 edicciones, editora criada pelo poeta em 2013 dedicada à edição de poesia e que já conta com um catálogo de traduções de pesos pesados: http://kriller71ediciones.com/inicio/


aqui a capinha do minha vida como bactéria (no prelo!)




Aníbal Cristobo nasceu em Buenos Aires, em 1971. Aníbal Cristobo viveu durante 5 anos no Rio de Janeiro, onde publicou seu primeiro livro, Teste da Iguana (1997), pela editora 7Letras, ao qual se seguiram jet-lag (2002), krill (2004) e Miniaturas Kinéticas (2005). Aníbal faz parte do conselho da revista Inimigo Rumor, verteu para o português diversos poetas hispano-americanos, como Antonio Cisneros e Gonzalo Rojas, edita a coleção argentina de poesia "bike-bike" e, em 2007, criou o site Escolhas afectivas, versão brasileira do modelo argentino Afinidades electivas, que reúne atualmente mais de uma centena de escritores. No blog kriller 71, podemos ler quase toda sua produção e também suas mais recentes traduções. Em 2002, Aníbal se instala em Barcelona, onde reside atualmente. Sua passagem pelo Brasil deixará muitas pegadas, marcas e rastros, e me lembro agora da iguana deixando seu passo na areia, figura que aparece em seu primeiro livro, mescla de velocidade e forma, mancha de luz:

Teste da Iguana

Animal: figura da velocidade
e da forma – mancha
de luz – que cruzou o caminho:
o passo da iguana e seu
selo na areia: repouso,
repetição do corpo

e o impregnado: a
pegada
como livro de paixões
e de assombro; e espelho: desdobrando
tua voz, igualando-a
com teu próprio desejo
como em algo
como num exercício metonímico:

“o passo da iguana
e seu sistema de indeterminação: forma

ou velocidade?”

Iguana:
teus olhos frios na pedra laranja,
rapidíssimos,
como final de toon.-


Este final inesperado de cartoon acompanhará muitos de seus poemas e é uma espécie de fuga da fixidez: é forma ou movimento? Este final de toon é um pouco também como sua partida do Brasil. O que era mesmo que ele dizia naquela tarde em que nos conhecemos? Já não lembrava bem, havia uma indeterminação na imagem, mas uma manhã ele escreveu para contar que sonhou que estava no Brasil e ficava angustiado porque tinha muitas coisas para fazer no que chamava agora de sua casa e não se lembrava de ter planejado uma viagem assim tão longa.

Então me perguntava: “isso aqui é um sonho, verdade?”. Respondia que aquilo era um sonho sim, “mas que ele vinha sonhando com isso havia muito tempo já.” Tenta ligar o walkie-talkie ou algo com fio que possa fornecer as informações mais recentes no aberto de um deserto, na curva de um espaço: estabelecer de que lado está quem, o que é real e o que é sonho, quem ou o que estão dizendo esses, aqueles poemas. E quais formas eles devem ter: um disco na névoa, um puzzle de montanhas chinesas ou a capacidade de reter um pixel da imigrante húngara passeando por Nova Iorque, saída de um filme de Jim Jarmusch:


Eszter

Um pixel da tua pele –
Uma peça da rarefação, a coleção
do sonho, como um crawl
na neve
eras o pardal no poste,
sacudindo-se apenas

e em Manhattan, tomando
um chá: como aquela
garotinha de Hopper

também você um chapéu.
Mas você: uns óculos,
um impala ‘68,
uma música.-


A história do sonho contada naquele dia poderia ser um poema em que um assobio seca os pássaros no ar ou um poema sobre a personagem sentada na varanda escura olhando para as luzes da cidade depois de ter ido embora. Talvez seja um jogo de deslocar-se constantemente de formas o que fazem seus textos, de mudar de lugar para contar essas histórias de outra maneira, talvez este seu teste da iguana: figura de velocidade e forma, em perpétuo desmontar-se e que deveria, constantemente, estar fazendo alguma outra coisa.

Ao contar sobre a “infância do seu procedimento”, Aníbal diz que tenta sempre usar uma caneta ou algo que não faça muita pressão sobre o papel, para não deixar, como nos filmes policiais, a mensagem marcar a folha por debaixo e ser descoberta depois. No livro krill (2004), reconhecemos esse mundo em que se tenta não marcar muito o papel, um mundo sempre escapando mas que volta de uma outra maneira com a presença da série. E neste livro podemos pensar em série tanto no sentido de variações, como os belíssimos poemas da série “Filhas do capinzal”, se multiplicando e vestindo diferentes máscaras ao longo do livro: versão mangá, versão western ou versão galáctica, por exemplo, mas também podemos pensar em série de seriado, filme policial, em que sem perceber vamos colecionando as diversas pistas, como os exploradores espalhados pelo seu livro: às 3 a.m., a garota indiana em Denver, os 19 suspeitos ou esses cabelos que poderiam entregar a filha do capinzal:


Filha do capinzal (uma canção)

A que arranhou o disco da névoa
enquanto todos dormiam em suas roupas
risíveis, era eu.

A que teve um sonho nas gengivas
até que as frutas apagaram suas lembranças
e gravaram seqüências, na
noite do paladar – era eu.

Que a lua não venha, agora
que peço. Que os macacos caminhem
de mãos dadas, em santidade.

Por seus relâmpagos os reconhecerás. Verás
o que o encantador não diz.
A que esculpiu seus heróis nas unhas, a que
curou as pedras, era eu.

E a que viu o koala, mantendo relações
com sua mulher, e o trevo de saturno, com suas
dez folhas bruxas, era eu.
Que a peste carregue este caderno.
Que os exploradores não encontrem meus cabelos.-


Reproduzo aqui outro poema da série "Filha do capinzal", agora a versão japonesa:

Filha do capinzal (mangá version)

Isto
parece o quarto da garota, com tantos cyber
posters, a limonada e
a mochila em cima de uma cama. Que
olhos são aqueles, estes, admirados
e abertos como uma cerejeira em flor?

Deitada aqui
escuto o ploc das botas
no convés, o som
das baleias azuis neste mar congelado.

Tudo tão quieto
como um teatro nô. E no
pesqueiro
lembro teus beijos japoneses, teu andar
iluminado por uma chuva fina, teu
dizer digital.-

Falando em variações, krill explora a ideia de série de maneiras diversas e apresenta também algumas “versões” para poemas de outros autores, como se fossem covers de músicas. Há, por exemplo, uma versão do poema “O urso”, de Ted Hughes, ou então de “Distancias incomensuráveis”, da Lu Menezes:


Distâncias incomensuráveis

Um espelho cai e bate
se quebra contra
estrelas se desfazem
na noite imaginária de um céu
do pensamento. Muito e pouco

distam
das estrelas e luas de strass
que sobre a mesa de um camelô
o sol faz brilhar: “a BBC

sonhava com tudo o que eu – mas eu
só comigo sonhava!”gritou
Souza, pela oniaudiente megafone instalado
em sua mente. Pela TV se vê
que para atrair os índios, um
espelho
foi deixado brilhando no matagal.

Mas quem afasta verdes feixes
de elétrons, e penetra
no vibrante espaço do capinzal
– distante e infinito –
sou eu. Eu:

trânsfugo índio que acha
a trânsfuga estrela no chão.-


Do livro krill, seguem mais dois belíssimos poemas, gravados no vídeo acima, “Céu do siamês” e “Ema”:

Céu do siamês

Oculto entre os cobertores, falo
com o siamês; “siamês, vamos para o Novo
México, quero ver a ruína
da ferrugem ao sol, e o
deserto de dias, um
cacto”. Cada um de nós

leva o roçar de suas pedras
na mão, compara
o método de seu rosto na ilha do medo. Eu

sou assim, e também
posso ser como você, fracassar
ao morder uma
pêra, ou um biscoitinho
qualquer. Siamês, me leva para longe, diz em

meu ouvido a tua posição
neste céu branco
do navio; e do falar, diz
cada repetição de
tuas palavras, aonde te
conduzem.-


Cielo del siamés Escondido en las mantas, hablo / con el siamés; “siamés, vamos a Nuevo / México, quiero ver cómo se arruina / el óxido en el sol, y el / desierto de días, un / cactus”. Cada uno de nosotros // lleva el rozar de sus piedras / en la mano, compara / el método de sus mejillas en la isla del miedo. Yo // soy así, y también / puedo ser como vos, fracasar / al morder una // pera, o cualquier / galletita. Siamés, llevame lejos, contame // en el oído cuál es tu posición / en este cielo blanco / del navío; y del hablar, decime / cada repetición de / tus palabras, adónde te / conducen.-



Ema

Chega a ema – cansada
de transmitir seu acorde – e sussurra
em teu ouvido:

– basta de peso físico, diz
– pastar, diz

Mas a ema é a bomba
de tempo! É o ladrão! Te descobre
sentado entre as rochas:

– vamos para o aberto, diz
– a curva do espaço, diz

Se há um diamante, é
o da persuasão e distração – como um
ilusionista: “o segredo é a viagem”; sonha
que te hipnotiza; mas também:

– “Eu não sou a ema! A ema
é invisível; e não é verdade
que olhe o céu, aguardando instruções.”-


Ñandú Llega el ñandú – cansado / de transmitir su acorde – y susurra / en tu oído: // – basta de peso físico, dice / – a pastar, dice // Pero el ñandú es la bomba / de tiempo! Es el ladrón! Te descubre / sentado entre las rocas: // – vamos hacia lo abierto, dice / – la curva del espacio, dice // Si hay un diamante, es / el de la persuasión y distracción – como un / ilusionista: “el secreto es el viaje”, sueña / que te hipnotiza; pero también: // –“Yo no soy el ñandú! El ñandú / es invisible, y no es cierto / que mire al cielo, esperando instrucciones”.-

E, por último, reproduzo o poema (ainda inédito em português) de seu projeto em andamento "Brazilian Grooves", composto de textos dedicados a amigos brasileiros:


Pane para um Monge Acrobata
à memória do Leo

Mas quem é que manda você sair sem lembrar
do chapéu, nem

da melodia que vinha assobiando, com os sapatos
cheios de sabão, pisando na
corda

bamba, com seu sorriso triste, logo
quando cortam a luz? Quem manda
embaixo desse céu inundado de peixes, com a tormenta
elétrica distorcendo as palavras, a
comunicação da torre
de controle, a batida do samba? Há um segundo

em que tudo pára, se interrompem
as notícias das Syferts do fundo do universo, a
mastigação das zebras da savana, a corrida
do jockey de camisa laranja; e ainda outro segundo
onde a movimentação é retomada

exatamente no sentido inverso: escutamos a voz da mulher
dizer

“…mmmaf… sssequências cervicais
do acrobata… mmmhuem… “

e

“…shhhhnnai? cervicais de um
ouriço , Om?”, enquanto os anéis de fumaça
do seu cigarro

voltam aos seus pulmões. Desta vez
o efeito vai nos jogar
longe daqui, Leo, na paisagem tropical
do rótulo

de uma garrafa de rum
bem na hora em que alguém
se serve de um copo, deixando os coqueiros
de cabeça para baixo; ou, com o macacão sujo por concertar a nave, no meio do estádio
de Wembley, verde fosforescente
na Playstation em que duas crianças

brincam de brigar pelo chute do Messi
na hora dos pênaltis: o que
vamos fazer ali no meio, Leo? A verdade é que assim

vou acabar
podendo ouvir cada vez menos músicas, ler
menos criticas, ter menos medo de escutar tua risada
quando eu falo bobagens. Aí seguimos, mais

ou menos os dois, aproximadamente
eu e você, o que quer que isso seja,
contra o fundo instável do poema.-

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Gravamos o vídeo que abre esta postagem em uma tarde de abril de 2009 em Barcelona, na Carrer de casp, depois de um almoço com a Mônica. Quando enviei o link do vídeo, Aníbal respondeu: “é estranho me ver sem você do outro lado da tela.”