Os passageiros embarcaram/ o navio embarcou os passageiros
O céu escureceu/ as nuvens escureceram o céu
(1) A doente está perdida
(2) A bolsa foi perdida pela minha filha
(3) O mar está agitado
Pierre, encontrando
ou Encontrando o que buscava, Pierre está feliz
Os olhos1 estavam voltados para ele, os olhos2 estavam voltados para ele... os olhosn estavam voltados para ele → Os olhos estavam voltados para ele
Eu faria qualquer coisa para qualquer um
O papel é amarelo
Mas a sequência
O sol faz o papel amarelo
torna-se:
O sol amarela o papel
Que Pierre esteja doente, eis o que causa um adiamento de meus projetos → Pierre doente, eis o que causa um adiamento de meus projetos
(Aquele que causa aflição em alguém, aquele que aflige)
A criança1 está doente, a criança2 está doente, ... a criançan está doente
O papel amarelou
resulta de:
O sol amarelou o papel
(eu quero) silêncio → silêncio!
É preciso viver aqui!
A mata não pode flutuar
Esse projeto não pode viver
Esses insetos podem machucar
Essa ideia não pode ser compatível
com a minha
Eu quero que isso seja silêncio
[krwa]
[krwa]
Quando ele chegar, vou lhe dizer
Esconda-se atrás dessa rocha → Está vendo essa rocha, esconda-se atrás dela
Pierre, encontrando o que ele buscava, está feliz
Pierre, a encontrar o que ele buscava, está feliz
Uma doença é curável
Um doente é incurável
[...]
Olivier Cadiot nasceu em Paris, em 1956. Nos anos 90, coeditou, com Pierre Alféri, a Révue de Littérature Générale (cuja capinha abre esse post). Este “blá-blá-blá” é um excerto de L’Art poétic’, seu primeiro livro de poemas, publicado em 1988, texto que encena uma espécie de tratado poético todo construído a partir de usos, frases e tics da língua francesa. Ao colar e listar enunciados comuns em um único texto, sua arte poétic’ vai produzindo um estranhamento na leitura e dando a ver, de forma muito bem humorada, as possibilidades e funcionamentos da língua.
Na tradução, algumas nuances da língua de partida desaparecem, como o uso dos tempos compostos no francês (fazendo com que o EST, por exemplo, esteja presente em muitas frases, em tempos verbais diferentes, repetindo-se sem parar). No site da P.O.L. Éditeur podemos ler as primeiras páginas do L’Art poétic’.
Cadiot publicou também vários romances, como Futur, ancien, fugitif, com heróis diferentes em cada um deles, mas sempre chamados de Robinson, por poderem encarnar, com esse nome, um arquipersonagem, isso é, um personagem que constrói novas relações e novas histórias a partir dos escombros do seu mundo naufragado.
Excepcional!
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